Maputo acordou gelada, não mais que vinte graus, e com um vento que vem
da Antártida. Quem puder acreditar, acredite. Tirito. Mas salvou-me o ânimo um
mail com uns versos que o meu amigo Ozo me mandou do Caribe, onde foi de
núpcias. Casou, mas continua um herético.
E enviou-me o poema que fez no dia da Páscoa.
Algumas notas para quem não é de Moçambique. O Museu, nas imediações do
célebre Museu de História Natural de Maputo, é um mercado popular encravado num
dos bairros nobres da cidade, e com centenas de tascas em madeira e zinco onde
as bebidas são pela metade do preço do resto da cidade. Um Xiconhoca é um
tretas que só faz confusão; o pito é uma expressão popular local para designar
a genitália feminina; a Inhaca é uma ilha, para aí a sessenta quilómetros da costa,
perto de Maputo; o Bairro Estrela é, em Maputo, um mercado de rua onde se podem
comprar as peças de automóveis que foram roubadas no dia anterior; um
Ministério é como as raparigas chamam a um amante ocasional que lhes paga
algumas despesas; Mueda é a localidade onde se deu um massacre perpetrado pelas
tropas portuguesas e que, embora seja um símbolo da luta armada, continua tão
pobre como antes; o Francisco é aquele que a gente conhece. Julgue quem queira,
eu deixei-me disso!
A UMA DAMA QUE PERDEU
OS TRÊS
NO MUSEU E MORREU
VIRGEM
O mundo perdeu o andor.
Perdeu o andor. Perdeu…
E já não distingue
estufa de braseiro.
“Quem não ensandeceu,
morreu!”,
buzina ébrio nas barracas
do Museu -
olhos biscos no
bizness - o xiconhoca
.
E eu peguei na Senhora
e fui-lhe ao pito…
à Nossa! E sossegada enfim a minha moca
confirmo: não presta a
dama. Mais valia rever
o Trinitá ou um
fim-de-semana na Inhaca
entre tartarugas e pornochanchadas,
que voltar-lhe aos
cueiros, uma caca
que só vista, como a da
paisagem inundada
que afogou os cocos e
que de tão blindada
encheu os caroços de
alzheimer. Fediam-lhe
a cona mais de mil
negros no porão!
Juro! O andor era o seu
ponto G,
e perdeu-o. Eu fui
apenas um dador!
Não sei que vos diga,
as procissões, só
as há por idolatria ou falta
de leite primor,
pois, na verdade, nem um
ladrão ladrou
quando o cão se me abeirou
dos colhões!
Porque, não era
dentada, a dita? Fedia,
tinha pra cima de mil
negros nos porões!
Procura-se agora no
bairro do Estrela,
entre matrículas, faróis
e pisca-piscas,
mas a esperança
apagou-se – foi-se
o andor, só da verdade
faço sela!
O andor desandou o
andar
e deslassou na desgraça
a novidade.
O futuro
di-vagou o andor
e eu, da varanda do
quinto, cuspo:
- Lágrima que arde!
Queres Ministério?
‘das!
Não lhe desejo mal, mas
não era já tarde,
prá Santa continuar a
ser um floco de neve?
Queria tanto, como o
meu amigo Joseph
que a lua fosse uma moeda
para lhe telefonar, da
pobreza de Mueda,
num domingo, 31 de
Fevereiro,
Lhe lembrar, a ela, à mãe de Cristo.
a nossa antiga morada -
do seio
ao peito, qu’eu do meio
pra cima
ou abaixo a tudo
assisto, independente,
e quando chupo sou mui decente
e até, dependendo do
labor,
docente!
Andor! O sol está a
pôr-se
e o mundo ficou sem
andor.
Dá-me um White Horse!
(Que rima tão mal
parida!)
Pena, já foi um
esplendor
e até, dizem, virgem
aparecida.
Gaspar, Baltasar e
Melchior
é que lhe tiraram o
retrato.
Se a estrela invernou,
pior,
se era já só fuligem…
ou se, na erupção de um
vulcão,
desfrutou, eles é que
viram
a embriaguez do cume, a
tesão
do lume na maior das bisgas.
Agora
o stress é do andor,
que se foi. - Francisco
não corras
não, a seta não pára!
E se te restar depois
alma & pudor
que bebas, da concha
das mãos,
o lodo! Cristo é que – ó
Sara,
‘presta-me o binóculo –
não morreu de sarna
na cruz! E quem a galinha
choca a esmo,
afinal, não é o ovo mas
o dólar,
o desfibrador do
metical.
O sol está a pôr-se e
talvez não tenha mal
visto que o mundo perdeu
o andor.
Põe-se o sol, o sol
está a decompôr-se.
Dá-me outro White
Horse!
Andor, andor! Sheet!
Grande estupor!
Não há? Dá-me um Black
Label!
OZO/ páscoa de 2013