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| o patracas, quando bebemos o primeiro copo | 
Chego a casa a cavalo num só olho, 
desdobrado, o espírito tomado 
pelas frautas de pan. 
Passei a tarde com o patraquim, 
há vinte cinco anos que passo as tardes 
com o poeta e ainda não acabámos 
o primeiro copo, depois da libação. 
A tarde encanece, só a nossa palavra 
está intacta como o gume na desrazão. 
Rimos, há 25 anos que rimos, 
mansamente descalibrados 
pelas ironias da sorte, sem 
termos acabado ainda 
o primeiro copo, depois da libação. 
Chego a casa a cavalo num só olho, 
abro o livro que ele me deu e vejo a brisa:
«Se no deserto um grão esporear o vento
(…)
Eu vi a noite rasgando
a palavra anterior
desocultando-lhe a pele
o espesso leite
um lago por onde os animais corriam
temerosos das inumeráveis sombras
perguntando-se em degola
(…)
o que a melancolia percebe dos plátanos
(…)
Depois descemos pela poeira
Hospedados os deuses em suas casas
(…)
Um nome disse: é um dorso
Arqueado ao meio por um rio
Alguém desesperou do rosto
E as casas abriram-se 
E eram os teus seios
(…)
Alta noite
O infinito
Deitado
Dormia»  
Alta noite sei: amanhece. O dia ainda
amanhece em nós, vícios antigos.
E a cavalo num olho, pela fímbria
onde alastra um esplendoroso incêndio
vejo que, ondulantes, respiramos
medindo o laço com que desapontamos
a morte. Matéria concentrada, amigo.

A melhor parte do meu café da manhã é abrir esta página e confirmar a vida. Chove, estamos cá, o prodígio resiste ao beliscar da pele.
ResponderEliminarÉs o meu melhor poeta. Obrigado.
dom lucas, não te disse que poderíamos ser uns belíssimos amantes? um desastre termo-nos desviado da via recta. na próxima reencarnação não me escapas.
ResponderEliminarEstou cá no Brasil, mas tenho um pé na África. Penso que engarupei-me desse seu cavalo para poder também apear por lá...
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