1
Desalmadamente redonda, estrábica melancia. 
  Acena para a empregada e tenta varrer com a língua 
  o creme da bola de Berlim que lhe esborrata o canto 
  da boca, antes de se fazer notar, e mimar 
 em silêncio: traazzz-me o miil-folhas! Depois 
  volta deliciada a passar com os pomos 
  dos dedos pelos membros em falta 
  numa reprodução da Vénus de Milo.
2
  A mosca ronda-lhe, erradia, o apêndice 
  nasal, onde em vão procura rima. 
 Ali só vespa. Quiçá uma pena de avestruz 
  com duas bombas-relógios no cálamo, 
  uma por cada narina. Aspira e a memória 
  de todo o rapé do mundo treme, temendo 
  que lhe caiam dos olhos untuosos as meninas.
3
  África inteira se admira do tamanho 
  da cachimónia que sustenta, num esfiapado
  equilíbrio, no alto do cocuruto, 
 o pequeno cofió. Brandos suores.
  É um café duplo, pede, a boca em ó,
  enquanto a testa se lhe franze 
  em deliciosos vermes brancos.
4
  Bolinhos com sementes de papoula,
 cogumelos em salmoura…
  o que eu não dava para amortecer
  o frenesim da bela trintona
  que tem um escorpião tatuado
  no ombro, o qual pulsa quando ela ri.
5
  Seguiu-lhe com o nariz telescópico
 o corpo extensamente perfumado
  como se em vagares de tarântula
  abrisse todas as gavetas de uma escrevaninha.
  6
  Empina as bochechas no interior da boca
 com a língua (lavorare stanca): 
  o caso é bicudo,
  o Arsenal marcou um golo.
7
  E quando levamos o telefone à orelha
  para verificar que era o alarme a tocar?
  Comigo é mato, recosto-me a ler
  e disposto a uma sesta marco a hora
  da espertina mas sou cavalgado 
 pelo entusiasmo e esqueço-me de Morfeu.
  Quando o animal toca, atendo, ‘ alô!’
  Mas no Royal conheço quem o faça 
 por método. Liga o alarme e a meio da bica
  ele toca. Três, quatro vezes, atende, ‘alô!’.
  Depois sorri para o desconhecido do lado
  e comenta, ‘é engano!’. Fá-lo todos os dias
  à mesma hora. Pitágoras tinha uma coxinha
  de ouro que acordava um sururu
  nos anfiteatros, este tem uma beiça de prata
  que refulge um pouco antes de proferir
  ´é engano!’ e lhe ficar pendida no peso 
  da última sílaba a laje da solidão.  
8
  É uma mesa lauta de anedotas picantes. 
  Elas fingem que bocejam. 
  Uma delas travejou nos soluços.
  Uma miúda ao fundo da mesa,
  nitidamente deslocada, d’olhos
  esbugalhados, estica o pescoço de garça
  para elevar as orelhas ao céu
  mas de vez em quanto ondeia-lhe
  uma ervilha na garganta, como se engolido
tivesse a piquena cabeça de um leão. 

muito obrigado, amigo!
ResponderEliminarmuito honrado com tão belo(s) poema(s)...
saudades
abraço forte
e não é Palmeiras (que isso é time de futebol duvidoso)
é Palmeira