Catapulta-se o mistério da vida 
                    num ovo de pulga.
Todo o ar que respiras contrai-se, 
inacabado, 
                    num ovo de pulga.
A inexaurível energia dos teus vintes anos, 
ei-la prodigiosamente vazada 
                    num ovo de pulga.
Nem sentiste como os anos te amassavam;  
pelo seu detalhado, exíguo furo, 
foi-te drenado o tónus 
que se prosterna ao ovo de pulga.
Claro que permaneces: à espera 
que o semáforo mude 
e a pulga no ovo se nutra.
É irrelevante a potência 
com que te entregaste
ao som e à fúria: sob 
o tampo da tua secretária galhofa
grudado o inexorável
                   ovo de pulga.
Sonhas que um cavalo branco te persegue
por toda a parte? 
No seu pêlo 
palmo a palmo há saltos invisíveis
                    e inocula-se o ovo.
Dizes: madeiras sãs, de quina viva, 
é o que tenciono afagar,
quer como carpinteiro, quer como bombeiro?
Onde o fogo não pega
medra em cachos 
                    a cápsula do suctório.
Voltaste a amar, reconheces-te
nos seios da amada, no brilho da pele, 
no seu riso de argúcia, na líquida
faca de mil faces?
Entre vós, mediará a pulga,
                o rosto da elipse,
não interessa se é pulga branca, se a negra,
que se esconde atrás da orelha.
                 Já pôs o ovo. 

Bichinho infernal...mete-se até entre os amantes! Mas, deixa quieto que tudo isso é mistério!!!
ResponderEliminarCoincidência! Também ocupo-me à perscrutar ovos de pulga! Cansei-me dos cupins... Deve ser a idade... desejos de SALTOS!!!
Intrigante!!!
Beijos