«A Shakespeare devemos tudo, afirma Johnson, querendo dizer que Shakespeare nos ensinou a compreender a natureza humana. Johnson não chega a dizer que Shakespeare nos inventou, mas identifica o verdadeiro teor da mimese shakespeariana: “A imitação produz dor ou prazer, não por ser confundida com a realidade mas por trazer a realidade à mente”. Acima de tudo um crítico empírico, Johnson sabia que a realidade se altera, na verdade, realidade é mudança».
Mais não se pode ler aqui – Harold Bloom - do que a evidência de que a realidade é uma “actualização” da dor ou do prazer, e não uma imitação da sua antecedência.
Não há álibi freudiano em Shakespeare, a frustração de Lady Macbeth não é precedida por nenhum descompensação “eléctrica”, eles – os personagens de Shakespeare – transformavam os efeitos em causas.
Ah, que bom, trazer a realidade à mente!
Morreu a Fátima,
moça d’olhos piscos
e tímida, que se fazia
um pouco amarrecada,
mas de sorriso largo
como um chicote.
Teria vinte e muitos,
talvez trinta na omissão.
Fora a Londres e voltara,
o seu maior erro,
além do coração.
Mal a conhecia, servia-me
copos e provocava-me
“Não se pode ler tantos livros
e ser decente!”,
e tinha razão:
preferia ser médico
ou, inadvertidamente,
mágico. Por que raio,
depenadas as pedras,
temos de ser trágicos,
se podíamos ser mágicos?
Morreu a Fátima
e apesar de ser justo
que o país permaneça
incólume não colaborarei
em tal constrição.
E como lembraria o raio
que ontem a liquidou
no cerne da sua razão:
nenhuma traição é soluta!
Vou no quarto Foda-se! do dia. Enfim, mesmo a um não crente isto obriga a puxar de um cigarro.
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