sábado, 18 de maio de 2013

PROCURO SOFÁ-CAMA

Conheço para aí uma dúzia de fotos de Marilyn Monroe, com ela a ler, mas esta, onde se esparrama num sofá, que imagino verde, é aquela de que mais gosto, ainda que uma actriz a ler um livro sobre O Actor me deixe em dúvida sobre se está em pose ou em vero tango com as palavras. Mas é a imagem ideal para ilustrar este meu poema, que já tinha postado numa primeira versão mas que agora está fixado – tanto quanto pode fixar-se uma duna. É o meu apetite para o sábado:
 
PROCURO SOFÁ-CAMA
 
Procuro um sofá de linhas sóbrias, prático, verde,
e com cama de enrolar. Muitos procuram alma,
a liga que na coxa de Isadora Duncan pôs biscos
os olhos de Éssenine. Haverá quem na pedra-sabão
procure o vestígio de um soneto, com a gana
de quem tudo perdeu nos casinos ou faz copy
and paste da segunda a domingo, para se lastimar
depois das borlas que lhe não lhe calharam. Tantos
jogam tudo na política. Eu procuro um sofá
com cama acoplada e se possível com gente dentro,
um nauta. Num mundo prenhe de ratos
e natas coalhadas, um nauta, talvez nascido
no âmago, sob a pele de alguns livros. E faremos filhos,
entre uma torrada e café e croissant com gila.
 
 

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