Conheço para aí uma dúzia de fotos de Marilyn Monroe, com ela a ler,
mas esta, onde se esparrama num sofá, que imagino verde, é aquela de que mais
gosto, ainda que uma actriz a ler um livro sobre O Actor me deixe em
dúvida sobre se está em pose ou em vero tango com as palavras. Mas é a imagem
ideal para ilustrar este meu poema, que já tinha postado numa primeira versão
mas que agora está fixado – tanto quanto pode fixar-se uma duna. É o meu
apetite para o sábado:
PROCURO SOFÁ-CAMA
Procuro um sofá de
linhas sóbrias, prático, verde,
e com cama de enrolar.
Muitos procuram alma,
a liga que na coxa de
Isadora Duncan pôs biscos
os olhos de Éssenine.
Haverá quem na pedra-sabão
procure o vestígio de
um soneto, com a gana
de quem tudo perdeu nos
casinos ou faz copy
and paste da segunda a
domingo, para se lastimar
depois das borlas que
lhe não lhe calharam. Tantos
jogam tudo na política.
Eu procuro um sofá
com cama acoplada e se
possível com gente dentro,
um nauta. Num mundo
prenhe de ratos
e natas coalhadas, um
nauta, talvez nascido
no âmago, sob a pele de
alguns livros. E faremos filhos,
entre uma torrada e
café e croissant com gila.
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