quarta-feira, 2 de maio de 2012

CÂMARA ARDENTE

                                            fernando lopes por jorge simão (um abraço jorge)

                                                                                                         para a Maria João Seixas

Morreu o Fernando Lopes. Há muito que se tinha ido
O Belarmino, e sempre ao morto sucede o mirto.
O filme de ambos era feito da energia dos murros

no ar do segundo. Com a massa de ar

Que deslocavam moviam-se os charriots.

O Belarmino era um clown a quem tinham roubado

O riso. O Lopes é que o topou, mais àquele seu passo

Desconchavado, no avesso do swing. Se avançava

Para o adversário é porque lhe estavam os calções

A cair, e havia que disfarçar isso com umas piruetas

E alguns lapsos, às vezes com a dor. Morreu o Fernando

Lopes que montava os filmes como uma aula de sapateado

ou a nadar, em câmara lenta. Morreu,

o contrário de um marialva. Veio o vento

E o morrão voou, mas o seu espírito fica.

Foi-se o Lopes, nem sempre nos demos bem, mas ele

tinha aqueles olhos piscos,  dois pirilampos

nas trevas de Deus, e no fim soubemos ser justos.

Quem agora acende o fogo para aquecer a abelha na chuva?

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